Um episódio recente de "The Good Place" enumerou (corretamente, até onde sei) os três grupos principais de modelos sobre a natureza e a origem da Ética.
- Ética das Virtudes
- Apresenta a Ética como a expressão de qualidades que chama de virtudes.
- Consequencialismo
- Se baseia na ideia de que o valor moral de uma ação é definido pelas suas consequências.
- Deontologia
- Acredita que as ações são inerentemente certas ou erradas - ou seja, entende que a ética é, em essência, a obediência às regras "corretas".
Meu entendimento é de que, dos três modelos, o Consequencialismo é claramente o que tem mais mérito, seguido de longe pela Ética das Virtudes, com a Deontologia definitivamente em último.
A grande fragilidade da Deontologia está em seu próprio conceito, e pode ser percebida através da análise franca de suas consequências lógicas. Pois se a Ética fosse obtida pelo mero seguimento de regras, ela seria, mesmo em condições ótimas, no máximo apenas tão boa quanto uma forma de obediência. Essa é uma visão por demais passiva de uma disciplina tão necessária. Passiva, e em última análise necessariamente incompleta.
O que nos leva ao Consequencialismo, que nos apresenta a Ética em sua forma mais realizada e mais nobre: como um desafio racional permanente, um mistério que se por um lado é solucionável, por outro lado se renova e se reapresenta constantemente.
Isso ocorre porque o modelo de ética do Consequencialismo, ao contrário da passividade rígida e estéril sugerida pela submissão a regras que a Deontologia espera, é um verdadeiro alvo móvel. Os limites da capacidade ética de um agente são definidos pela sua própria capacidade de análise e raciocínio, e cada nova realização moral amplia essas fronteiras, impondo desafios éticos ainda mais amplos, mais ambiciosos, mais complexos. Bastante cedo nesse caminho se percebe que uma das obrigações éticas básicas é a da aceitação da responsabilidade que nasce com a capacidade racional. A Ética é consequência necessária e inevitável do encontro da capacidade de ação com a capacidade de análise das consequências possíveis e prováveis. Quanto mais racional uma entidade, maior a sua obrigação ética e maior o seu poder de análise ética.
A Ética das Virtudes, em contraste com os outros dois modelos, não deixa de ser o seu lugar. Entendo porém que esse lugar não é o de alternativa aos outros dois, mas de forma de expressão das diretrizes consequencialistas. É, por assim dizer, uma técnica. Uma técnica que, com os devidos cuidados e verificações, pode ser bastante útil para a expressão e desenvolvimento dos valores da Ética consequencialista.
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