Do que trata esta série?
Nesta série de postagens, pretendo examinar separadamente algumas perspectivas frequentes a respeito do que viria a ser religiosidade e sua expressão.
Por que estou examinando perspectivas distintas sobre religiosidade?
Porque sou um ateu que considera a religiosidade algo importante demais para ser deixado por conta apenas dos teístas.
Mas também e principalmente porque considero o assunto importante e ainda assim perigosamente negligenciado. A variedade de perspectivas é grande, mas insuficientemente discutida ou mesmo reconhecida.
Uma atividade que lida tão diretamente com as motivações, valores, dores e esperanças da humanidade merece muito mais atenção e muito mais clareza de análise do que a religiosidade tem recebido de uma forma geral.
Os motivos por que essa situação está estabelecida são outro assunto que merece atenção. Posso vir a tratar dele em outras postagens futuras.
#1 - Religiosidade enquanto prática para garantir qualidade no pós-vida.
Descrições de outros autores
Bill Warner, que é crítico decidido do Islã, afirma que ainda assim pelo menos parte do Islã deve ser considerado como prática religiosa, e explica essa afirmação ao indicar que a finalidade desse aspecto do Islã seria "evitar o Inferno e alcançar o Paraíso".
Minha opinião sobre esta perspectiva
Esta não é uma perspectiva que eu vejo com simpatia. De fato, é uma que eu sequer considero legítima, ou digna de existir.
Na medida em que os valores e atitudes de pessoas reais podem de fato se beneficiar com esta preocupação, penso que resultados melhores e muito menos contaminados podem e devem ser buscados com narrativas mais racionais e menos supernaturalistas.
As armadilhas do apego ao pós-vida são muitas e bastante nocivas. Uma das mais fáceis de demonstrar é a sua afinidade com narrativas egoístas, desrespeitosas e anti-sociais: a partir do momento em que um grupo suficientemente coeso começa a cobrar uns dos outros uma atitude de "respeito" a uma narrativa específica de "conquista do paraíso", estabelece-se de imediato uma cultura de manipulação, intimidação e repressão. E como é impossível demonstrar evidências concretas do grau de validade dessa narrativa, ela se torna um dogma inquestionável para os que a apóiam, mesmo que passivamente.
Trata-se da receita clássica do terreno fértil para a corrupção.
Que alternativas devem ser consideradas?
Para quem vê apelo nesta perspectiva, pode ser bastante difícil encontrar um motivo para considerar outras, principalmente quando há encorajamento de família e amigos.
Ainda assim, considero necessário confrontar firmemente esta perspectiva e apresentar alternativas mais saudáveis a ela em cada oportunidade que se apresente.
Um caminho possível é certamente o de utilizar técnicas de epistemologia urbana para encorajar os afligidos a considerar quais motivos realmente tem para manter suas crenças. Preparando o terreno dessa forma pode vir a surgir brechas para propor atitudes menos especulativas e mais fundamentadas em fatos e eventos reais. Há bastante satisfação possível nessa mudança de atitude, inclusive a de estabelecimento de laços sociais e afetivos mais sólidos, mais livres de dogmatismo e a reserva emocional que vem com esse dogmatismo.
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